26 dic 2010

Carta a José


Pobre José, você tem uma noiva, você vai se casar, ela engravida e não tem nada a ver você. Você tem o direito de repudiar. Você pode sair desta situação dolorosa com cabeça erguida e o que você faz? A leva com você? A trata como se nada tivesse acontecido! Quem sabe quantos riram de você!
Faz o pai a um filho que não é teu, que você nem sequer gerou.
Trabalha, sua, faz peripécias para sobreviver e sustentar sua família. O trabalho, na verdade, é aquele que as pessoas pagam pouco e prestação. Até mesmo arriscar sua vida para seus entes queridos. Tem até mesmo que migrar para não te matarem. Em suma, você deve fazer muito para todos. Você se desdobra para tocar a vida avante. E o que você ganha em troca? A total insignificância.
Todos falam de Jesus Todos lembram Maria. E de você quem se importa? Quem te considera?
Não teve um só evangelista que se dignou de recolher uma única de suas palavras. Mais, não disse uma única palavra.
A bem da verdade, para ser justo dizer uma palavra disse, e mesmo que não com a voz, mas em ações. Essa palavra é curta, de modo que quase não pode mesmo ser considerado uma palavra. Se trata do "sim." Sim, você sempre apenas respondeu "sim".
Você é muito bom, José. E você sabe como se diz a nossa gente: Quem é muito bom, arrisca à para passar por idiota.
E depois, veja bem, José, na sua idade ainda sonha. Ainda acredita em um mundo diferente. Continua à esperar que as coisas possam mudar. Então José, você não aprendeu nada da vida. Ou então é a sua escolha. Consciente e reiterada.
Não me diga que, apesar de tudo, continuou através anos a cultivar dentro de si os ideais e os projetos de grande envergadura.
Não me diga, por favor, que nos teus interesses está o bem dos outros. Pobre iludido. Aqui cada um pensa por si e olha para o presente.
Caro José, se achamos cansativo te entender é provavelmente, porque a nossa compreensão da vida é completamente diferente da sua.
Isso não significa que o seu modo é errado.
Sim, você sabe fazer silencio. Nos hoje fugimos do silencio porque isto nos perturba. Na verdade, quando paramos e estamos um pouco em silêncio, com nós mesmos e com os outros, somos tomados por uma sensação de vazio, que traz frustração, tristeza, ansiedade e inquietação.
Esta é também por isso caro José, que vivemos sempre com pressa, "falamos como papagaios", e se por apenas um momento estamos a sós, depressa ligamos o rádio, a TV e todas as descobertas técnicas de última geração, que muitas vezes compensam os buracos negros da nossa alma e a imaturidade de nossa comunicação e relacionamento. Talvez seja por isso que muitos de nós hoje se aturdem com fortes emoções, experiências extremas, luzes ofuscantes, ritmos musicais ensurdecedores, substâncias menos ou mais entorpecentes.
Você, ao invés, caro José, sabe ficar em silencio. Você não tem medo do silêncio. Isto porque para você não é um tempo perdido ou desolador. Seu silêncio é habitado. Sua presença amiga é Deus. Vive em sua companhia, sempre. Quando você trabalha em sua oficina de artesão, quando você brinca com teu filho Jesus, quando você está íntimo com Maria, tua esposa. E mesmo quando você está só contigo mesmo. É próprio aí que a sua presença e a sua palavra se fazem sentir de uma forma muito especial. Para você, o silêncio é tempo precioso para a reflexão, meditação e oração. Eis porque não foges de mil maneiras, como geralmente fazemos. Mas ficamos felizes.
Já seria tanto para nós aprendermos com você, esta dimensão espiritual da vida. No entanto, sinto que há mais, José, naquele teu jeito de permanecer em silêncio. Não é só Deus a habitar em sua mente e em seu coração, mas também as pessoas que você ama, começando por sua esposa e filho. Você os leve sempre contigo. Mesmo quando você está sozinho, mesmo quando tudo à sua volta está em silêncio, você está em doce companhia. O teu silêncio não te afasta, mas te aproxima ainda mais à eles. É possível amar o outro, de fato, mesmo na sua ausência.
Seu silêncio então, nos fascina por outra razão. Por que é o silêncio na presença. O amor é isto também. Você, doce José, silencia mas faz. Você faz pelos teus, você cuida deles e como. Você nunca recua. Você se coloca em ação sempre. Você age. Você é capaz de concreto e praticidade. O amor também passa por aí. De fato, sabemos por experiência, que você não ama em palavras, mas em obras e na verdade. Se isso for verdade, é igualmente verdade que o amor não é apenas ação. Pelo menos como nós pensamos.
O amor é antes de tudo dar espaço dentro de si para o outro. É hospedar-lo no coração, na mente e n'alma. Quantas vezes, frente a um que com grande compromisso se põe a fazer algo por nós, nos dizemos a este: "Pare por um instante, fique um pouco aqui comigo, me olhe, me escute". Nós sabemos bem. O que nós precisamos, em primeiro lugar, é sentir-se importante da pessoa amada, aqui e agora. Os brinquedos, presentes, dinheiro, roupa bonita não compensam a ausência do verdadeiro amor, aquele que nos ouve, comunga, se faz intimo, partilha o tempo, sentimentos e projetos.
Seu silêncio, José, é cheio de ternura e doçura. É acolhimento interior. Esta sua aparente passividade é muito mais ativa que o nosso ativismo e boas intenções protagonistas. O amor é antes de tudo observação, auscultativo , empático, simpático e solidário. Em uma palavra, você o carrega no coração.
E então, caro José, vamos dizer, sem medo de cair em heresia, você não é estúpido nem mesmo mudo, você falou, e como. É apenas que os evangelistas adoram destacar o horizonte interpretativo do teu discurso, vale dizer que o teu sim à sua vontade a Deus, ao invés do conteúdo específico do teu dizer. Quem sabe quantas vezes você o disse a sua (sic). Você certamente levantou a voz à Jesus, além disso, agora como então, as crianças devem ser corrigidos e orientados, bem como apoiadas e incentivadas. Você deve ter discutido às vezes com Maria. Queremos imaginar que você conflitou ocasionalmente, se não por outro, mas por Ele, por seu filho. Acontece assim que todas as famílias do mundo, você sabe. Muitas vezes os cônjuges estão sujeitos a tensão entre si, pela educação de seus bebes, crianças e adolescentes. Por outro lado, caro José, é você mesmo a ensinar nos que não é suficiente por filhos no mundo, ou dar nome a eles para dizer sermos bons pais, a fim de sermos educadores eficazes.
A identidade dos filhos, estruturam-se no relacionamento e no tempo, e em primeiro lugar na família. E o pai, a este respeito tem uma importante responsabilidade, um papel indispensável. Você, que tendo sido sem duvidas um bom pai, certamente ajudou a Maria não se prender à Jesus. Você, marido e pai casto, capaz de amar as pessoas sem medida, mas com grande liberdade interior, ou seja, sem criar dependência, sem atá-las você, certamente ajudou Maria a fazer precisamente esta dimensão do amor em relação a Jesus, especialmente na fase de crescimento, que se abre para a maturidade da vida. Resta-se pais para sempre, mas deve-se desenvolver a capacidade de exercer a maternidade e paternidade de maneiras diferente e sempre nova. Pode-se e deve-se amar até mesmo, às vezes, ficando em segundo plano, apreciando a sã autonomia que as crianças adquirem com o tempo. Não é fácil, mas possível.
Caro José, é também então um pouco mérito teu, se entre Maria e Jesus é uma relação que não sufoca. A mãe segue o seu filho à distância, discretamente, com carinho sempre, inexoravelmente, mesmo sob a cruz. Mas o amor de Maria por Jesus nunca se tornou um obstáculo para a realização da vontade de Deus para sua vida. Em tua casa, José, todos amam uns aos outros, mas sem possuírem-se. As nossas famílias precisam crescer também a partir deste ponto de vista.
Por tudo isso e por mil outras razões, nós te agradecemos, caríssimo José e pedimos que você peça por nós, a Jesus teu filho, o dom de viver o Natal com a tua própria fé.

 

 
Pe. Donato Pavone
Homilia para a Festa da Família de Nazaré.
Igreja de Santo André
Em 26 de Dezembro 10